terça-feira, 25 de setembro de 2012

Os que se dizem "muito ocupados"


Heike Bruch, professor de liderança da Universidade de St. Gallen, na Suíça e Sumantra Ghoshal, professor de estratégia e gerência internacional na London Business School, Londres, estudaram, durante dez anos o comportamento de gerentes “muito ocupados” em quase doze grandes empresas incluindo Sony, LG Electronics, Lufthansa e outras. (*)
Pasmem! Nada menos que 90% (noventa por cento) dos gerentes gastam seu tempo em toda sorte de atividades com baixo valor ou eficácia. Em outras palavras, somente 10% (dez por cento) dos gerentes ocupam seu tempo em atividades comprometidas, de real valor para a empresa. Assim, os autores alertam para a diferença entre gerentes (chefes, executivos, supervisores) que realmente contribuem para o crescimento e desenvolvimento da empresa e os que “se fazem parecer muito ocupados” e quase nada contribuem efetivamente.

Um chefe, gerente, diretor, eficaz, deve ter duas coisas fundamentais, dizem os autores – foco e energia. E a partir dessa premissa, constatam haver quatro tipos de gestores: 

(1) Os que deixam tudo para depois. São os que não têm foco nem energia. Sem foco e sem energia tudo fica por conta do tempo e do “Deus dará” como dizemos. São os procrastinadores. Os que não assumem, não se comprometem. Segundo o estudo, esse tipo chega a 30% dos pesquisados;

(2)  Mais ou menos 20% dos gerentes estudados têm um foco alto e uma energia baixa. São os ”cansados”. Os que não lutam pelos seus propósitos. Eles sabem o que querem e devem fazer mas falta-lhes a “força para fazer, para implementar”. Não são  realmente “engajados” no desenvolvimento da empresa, desistem logo, acomodam-se frente a qualquer desafio maior;

(3) O maior grupo – mais de 40% dos gerentes estudados – são os que têm uma energia alta e foco baixo. São “ativistas”. Fazem, fazem, correm, correm, mas não sabem direito para onde estão correndo nem se o que estão fazendo os está levando a algum lugar. Sentem uma desesperada necessidade de estar “fazendo alguma coisa o tempo todo”. Ocupam-se de tarefas que não lhes é pertinente. Centralizam tudo para sentirem-se ocupados e ativos;

(4) Somente 10% dos pesquisados entraram na categoria ideal – foco alto, bem definido  e energia elevada. Esses são aqueles chefes, gerentes, dirigentes que realmente fazem a diferença pois além de saberem exatamente onde querem chegar, têm a necessária energia para fazer, implementar, acompanhar, motivar pessoas. São os que pensam, questionam, planejam, fazem acontecer, estimulam colaboradores, mostram a direção certa, motivam, lideram, os realmente comprometidos.

Encontramos em todas as empresas estes quatro tipos de dirigentes.  A análise do quadrante Foco/Energia parece ser uma ótima ferramenta para a avaliação do quadro de gestores de uma empresa. Num mundo competitivo como o que estamos vivendo, é fácil um gerente cair na armadilha do “ativismo”. Trabalhar longas horas, exigir relatórios, criar burocracias desnecessárias, centralizar decisões além da necessidade, podem dar ao gerente uma sensação de competência e além disso dar a ele a idéia de estar passando para seus superiores uma imagem de comprometido. Desconfiar, pois do gerentes “muito ocupados” é um desafio que precisa ser enfrentado nas empresas. Dirigentes têm que ter tempo para questionar, pensar, planejar, inovar, liderar, motivar seus subordinados à ação eficaz que realmente leve a empresa ao sucesso. 

O “procrastinador”, aquele que deixa tudo para depois, que “empurra com a barriga” é mais fácil de ser detectado. Muitas vezes a sua atitude de indecisão permanente é justificada pelas incertezas do mercado. A procrastinação pode até vir fantasiada de “prudência”, mas ela, certamente é vista hoje, com certa facilidade, como algo negativo.

Também não é uma tarefa difícil na avaliação de dirigentes, a detecção dos “desengajados”.  Eles sabem bem o que deve ser feito e até o como fazer. Mas falta-lhes o “pique”, o “drive” para fazer as coisas acontecerem. Falta-lhes a energia para lutar. Esse tipo de dirigente muitas vezes se justifica, dizendo-se “cansado de lutar” contra os que não compreendem suas posições. Muitas vezes usam a expressão: “cansei de brigar para trabalhar” e parecem ter realmente desistido. Esse tipo, acomodado é muito perigoso para a empresa porque ele não é mau em si. Quando discursa, fala, expõe seus pontos de vista, são capazes de convencer pela coerência de seus argumentos. Isso ocorre porque eles têm foco. Sabem o que fazer e como fazer. Mas na hora de implementar, são fracos de vontade. Desistem frente a qualquer obstáculo e muitas vezes fazem-se de vítimas. 

 O que a pesquisa realmente nos traz de assustador é justamente o fato de que somente 10% dos gerentes puderam ser classificados como “comprometidos”, empreendedores, etc. Eis aqui um grande desafio para a empresa. Como competir e vencer com esse quadro? O que fazer para mudar esses 90% dos quadrantes onde estão para o quadrante do comprometimento? 

E a nós resta-nos fazer uma auto-análise. Nesse quadrante – foco e energia – onde nos encontramos? Que tipo de dirigentes somos nós? Temos tido foco e energia elevados para fazer a diferença no mundo de hoje?

Pense nisso. Sucesso!            
                                                                           
Luiz Marins   

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